domingo, 18 de março de 2012

Educação e greve dos educadores

O salário dos professores é apenas um item, contudo importantíssimo. Quem acredita que um pai de família tem condições de "sobreviver" com dignidade com um piso salarial, que no caso de Minas Gerais se tornou teto salarial através do subsidio de R$1.320,00 mensais, que líquido fica em torno de R$1.100,00? Todos podem dizer que muita gente vive com salário mínimo ou até menos, contudo não podemos rebaixar nossa comparação para justificar as aberrações dos governos do PT Dilma e PSDB Anastasia. Ambos devem ser cobrados. O primeiro por estipular um piso absurdamente pequeno que faz o governo mineiro se vangloriar dizendo que paga 51% acima do piso nacional. O segundo por destruir a carreira do magistério que já não tão boa assim.

Muitos dizem que não podemos ligar salário com desempenho e qualidade de ensino, isso é um erro. O professor deve ser formador de opinião, uma elite intelectual, perfeito. Acontece que para que isso seja possível o professor precisa se qualificar, se aperfeiçoar e se formar. Para que tudo isso seja possível, precisamos de dinheiro. Livro não é barato, cursos são ainda mais caros. E sem querer fazer sensacionalismo, prefiro, sinceramente, comprar alimento para minha família, pagar médico para meus filhos, uma vez que o governador está claramente sucateando o IPSEMG para privatizá-lo, e comprar remédios. Infelizmente temos que nos manter vivos para sermos ainda mais explorados pelos capitalistas. Muitos dizem que devemos eleger representantes da categoria nas Câmaras Municipais, Assembléias, e Congresso Nacional, isso se torna impossível, uma vez que todos sabemos que para se eleger precisa-se de muito dinheiro. Professor não tem dinheiro para fazer campanha no mesmo nível financeiro de outros profissionais, como os empresários, por exemplo. Para que um professor tenha dinheiro para fazer campanha tem que ser como os que já foram eleitos: receber dinheiro de algum empresário e ou segmento, e depois "devolver" a quem financiou sua campanha e então ter que virar as costas para sua categoria. Esse debate é mais profundo do que parece, não podemos apenas emitir opinião como muitos fazem, temos que ser mais rigorosos e nos despirmos de todo e qualquer preconceito que temos para avaliar a postura e as ações de uma categoria que ficou quase 15 anos sem correção salarial (começando com Azeredo e passando por todo governo Aécio). E agora com o governador Anastasia os ataques continuam. Não podemos esquecer dos ataques do governo federal do PT. Muitos afirmam que nos fazemos de vítimas, mas a realidade é essa mesma, somos vítimas sim: de um Estado capitalista selvagem que ataca todos os setores sociais, sendo a educação a mais atingida, vítimas de uma sociedade que não tem consciência de classe e defende o patrão e ou o governo que a explora, vítimas de pessoas que possuem algum conhecimento e pensam que podem emitir juízos de valor sobre tudo, somos vítimas de companheiros de categoria que ignorantes pensam que não aderindo às greves estarão “fazendo moral" com o diretor da escola em que trabalha. É patético tudo isso, mas é verdade. É uma barbárie o trato com a educação no Brasil e em nosso caso específico em Minas Gerais.

Para fazermos uma comparação entre salário e desempenho dos professores e dos alunos basta voltarmos aos anos da década de 1980 e observarmos que naquele período o vencimento do professor da rede pública de Minas Gerais girava em torno de 10 salários mínimos. Sendo assim, os professores podiam se dedicar a apenas um cargo e preparar bem suas aulas. Sobrava tempo e dinheiro para a sua qualificação desde leituras até cursos. Nesse período os alunos de escolas públicas eram aprovados nos vestibulares das melhores universidades públicas do país. Vamos lembrar que o sucateamento da educação começou com o governo Azeredo e vem se aprofundando até hoje. Vamos lembrar também do secretário Paulo Renato e o aumento espetacular do número de escolas particulares em Minas Gerais. A discussão é complexa! Não podemos olhar apenas para um ponto e seguir em direção a ele. Respondam-me: Qual é o projeto de educação para o Brasil? Pelo menos qual é o projeto de educação para Minas Gerais? Projetos nesse nível são feitos para que os frutos sejam colhidos 20, 30 ou até mesmo 50 anos adiante. No Brasil e em Minas todos os anos tudo é diferente. Vejam os exemplos dos Chamados Tigres Asiáticos. Todos investiram muito na educação após a segunda guerra mundial e os frutos começaram a ser colhidos a partir da década de 1990. Temos que ressaltar que os investimentos nesses países passaram decisivamente pelo salário dos professores. Nesses países os professores são uma das categorias mais bem pagas. No Brasil é o inverso. Será que não dá para relacionar salário a desenvolvimento? Vamos refletir um pouco mais sobre essa questão.

Gilberto José de Melo
Professor da rede pública estadual de Minas Gerais e particular
Coordenador geral da Subsede do SindUTE de Patrocínio
Militante do Movimento Educação em Luta (MEL)
Militante da CSP-Conlutas – Central Sindical e Popular
Militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

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