quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Vereadores aprovam segregação social e econômica em Patrocínio

Em matéria divulgada no dia 10/11/2010 no site www.patrocinioonline.com.br, fiquei assustado e indignado com o que li a respeito de uma indicação proposta pelo Vereador e vice-presidente da Câmara Municipal de Patrocínio Alberto Sanarelli e aprovada pelos demais vereadores – a matéria não esclarece se a indicação foi aprovada por unanimidade. Este digníssimo vereador, e os demais, parecem não conhecer as atrocidades que o mundo vivenciou devido a atitudes como esta tomada por eles. Estes aprovaram que em Patrocínio existem cidadãos de segunda categoria por não terem condições financeiras de pagarem para participarem da festa de aniversário de sua própria cidade. Decidiram que vão sugerir ao Sindicato Rural de Patrocínio que realize uma festa com dois ambientes onde os mais abastados vão poder assistir aos shows, porque estes serão caros e os pobres trabalhadores que possuem um salário indigno para qualquer cidadão não terão acesso pelo fato de não terem condições de pagarem os ingressos. Os menos favorecidos poderão entrar no outro ambiente onde não acontecerão os shows, mas terão muito com que gastar, pois neste ambiente, devidamente separado para não misturar ricos e pobres terá parque, barracas com objetos para serem vendidos e bares. A ideia é não misturar ricos e pobres. Nossos digníssimos vereadores acabaram de criar o apartheid social em Patrocínio. Na África do Sul o apartheid foi um regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994. Em Patrocínio a segregação será econômica e social. O mais revoltante é que foi dito que esta atitude foi tomada para popularizar a festa, ou seja, para democratizá-la permitindo que o povo pobre de nossa cidade participe das congratulações do aniversário de Patrocínio, contudo sem se misturar com a elite, pois seria indigno para os ricos terem que dividir o mesmo espaço com os pobres para assistir aos shows.

Com esta divisão proposta pelo vereador Sanarelli e aprovada pelos demais vereadores podemos fazer uma relação com outras divisões e segregações que aconteceram no mundo e outras que ainda acontecem. Tivemos na Antiguidade a separação entre judeus e as demais etnias onde esse povo teve que fugir várias vezes. Um exemplo foi quando eles foram para o Egito onde foram escravizados e depois fugiram de volta para a Terra Santa e novamente tiveram que fugir dos romanos e se espalharam pela Europa. Pelo menos nesta época eles tiveram como fugir. O pior foi durante a Segunda Guerra Mundial que os nazistas não permitiram esta fuga e realizaram milhões de assassinatos. Atualmente estes mesmos judeus que foram perseguidos e quase exterminados estão perseguindo os palestinos.

Diante das atrocidades cometidas sobre os judeus os europeus e a ONU decidiram resolver o problema dividindo a Palestina entre esses dois povos, uma vez que a região da Palestina era a região reivindicada pelos sionistas por ter sido esta historicamente ocupada pelos judeus e estes a considerarem a Terra Prometida, a Terra Santa. Vários conflitos se seguiram após a divisão do país Palestina, criando também o país Israel. Após esses conflitos a Palestina desapareceu, devido à ocupação israelense, permanecendo apenas o país Israel. A partir de então os palestinos que passaram a ser uma nação sem pátria, ou seja, sem território, iniciaram sua resposta que veio principalmente através do terrorismo sobre o povo judeu.

Os israelenses com o intuito de evitar a entrada de terroristas em seu território a partir da Cisjordânia estão construindo um muro que divide esta região autônoma dos palestinos com o restante o país. Esse muro divide e separa esses dois povos sob a alegação de se evitar o terrorismo, talvez seja para facilitar a permanência de Israel como único país naquele território.

No Ocidente e mais especificamente no país mais rico e poderoso do mundo, os Estados Unidos da América, esta situação também é uma realidade. Este país está construindo um muro na fronteira com o México e seu objetivo é claríssimo: evitar a entrada de pobres mexicanos e de outros pobres do continente americano em seu território. O povo norte-americano que vive no país mais “democrático” do mundo defende a liberdade, mas como está colocado na música Olha de Milton Nascimento, “clamamos por liberdade, mas só aquela que nos convém”.

E por escrever sobre muro o que dizer sobre o muro que dividiu a Alemanha em Ocidental (capitalista) e Oriental (“comunista”). Quando ocorreu a queda do muro de Berlim em 1989 houve uma festa em ambos os lados que foi transmitida pela televisão para todo o mundo.

Percebemos, então, que a segregação racial, econômica e social sempre existiu e diante das questões vigentes continuarão existindo. O capitalismo contribuiu para a divisão, o socialismo afirmou que as diferenças acabariam, e pressupõe-se então, que os muros e segregações deixariam de existir.

Como observamos os muros visíveis e invisíveis que separam seres humanos por questões raciais, econômicas, sociais e culturais ainda estão presentes. Contudo, poderíamos demonstrar um avanço da humanidade contribuindo para o fim das segregações e não criando mais uma. Patrocínio e a atual Câmara dos Vereadores poderão entrar para a história como a cidade que criou oficialmente a segregação social e econômica como foi criado oficialmente o apartheid (segregação racial), na África do Sul.

Senhores vereadores tenham lucidez e revoguem o que foi aprovado. Para popularizar e democratizar a festa pelo aniversário de nossa cidade essa segregação será imperdoável, pois não haverá popularização e democratização, mas sim elitização e privilégios para uma pequena parcela da população de Patrocínio. Para popularizar e democratizar a festa em homenagem ao aniversário de nossa cidade permitindo que todos os cidadãos tenham condições de participar e festejar é necessário que esta festa seja realizada pela Prefeitura e não pelo Sindicato Rural. Este está visando lucro, por isso os valores irreais para o povo pobre e a conseqüente segregação proposta pelos vereadores. A Prefeitura teoricamente não visa lucro e sim tem a obrigação de gastar os impostos arrecadados com o povo. Caso este queira uma festa sem gastos com entrada no local da mesma, assim o prefeito deve agir e com a aprovação dos digníssimos vereadores.

Esta segregação será duramente combatida pelo povo patrocinense. Precisamos de justiça social e não de oficializar a segregação social. Na festa de 2011 devemos ter portões abertos em todos os shows e não preços que apenas os ricos poderão pagar.



Gilberto José de Melo

Cidadão e Professor

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